É claro que, para os palavrões constituírem pecado, é necessário que sejam proferidos com pleno conhecimento e pleno consentimento. A raiva ou um grande aborrecimento diminuem a responsabilidade moral e a gravidade da falta, porque tornam mais difícil conter o fluxo de palavras grosseiras que vêm à mente. Mas isso não ocorre se a pessoa se habituou a jamais proferir palavrões e a usar sempre uma linguagem respeitosa e elevada.
É precisamente nessas circunstâncias que se deixa ver se a pessoa recebeu uma boa educação ou melhorou a que recebeu no ambiente em que foi criado. Alguém disse que a cortesia é a liturgia da caridade e isso é muito verdadeiro, pois a pessoa polida demonstra ter preocupação pela sensibilidade das pessoas que a rodeiam. Mais ainda, como a caridade começa em casa, ela demonstra ter uma consciência clara de sua própria dignidade de católico batizado e de membro de uma família digna.
Aqueles que se habituaram a dizer palavrões devem se esforçar para corrigir esse mau hábito e procurar afinar a sua sensibilidade de maneira a se chocarem quando ouvirem músicas, diálogos de filmes ou conversas entre colegas ou amigos que empregam linguagem chula. De fato, a vulgaridade tem o efeito muito danoso de conseguir amortecer na alma das pessoas a rejeição a coisas que normalmente deveriam chocá-las.
Essa obrigação de corrigir-se é tanto maior quanto mais a pessoa estiver em contato com crianças, pois estas são propensas ao mimetismo e tendem a repetir o que ouvem dos maiores. Se o entorno acha graça, elas percebem nos sorrisos maliciosos um encorajamento para enveredar pela via da vulgaridade e da faceirice. Aos que colocam as crianças no bordo desse precipício, aplicam-se as severas palavras de Nosso Senhor: “Se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar” (São Mateus 18, 6).
Uma consideração final e colateral, já não diretamente de ordem moral, mas que pode ajudar a nossa sociedade decadente a fazer um derradeiro esforço de correção da linguagem. É as pessoas tomarem consciência de que a linguagem vulgar cai bem em certos ambientes ditos “prá-frente”, mas é muito mal vista nos círculos mais cultivados e elevados de uma cidade, nos quais a elegância da apresentação e dos modos de ser ainda é um critério de avaliação das pessoas. Esses círculos poderão dizer ao “boca suja” aquilo que os criados disseram a Simão Pedro na casa de Caifás: “Teu modo de falar te dá a conhecer” (São Mateus 26, 73).
O mais importante, porém, é procurar ajustar em tudo nossas vidas ao divino modelo de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja linguagem era constituída somente de “palavras de vida eterna” (São João 6, 68). Pode-se imaginar a elevação, a seriedade e a doçura das conversas da Sagrada Família na casa de Nazaré?