Entre brasileiros verdadeiramente católicos, apostólicos, romanos — assim como em qualquer outro povo quando é inteiramente católico — chega-se ao mais característico de sua pátria quando são católicos de modo autêntico. A religião católica faz com os caracteres nacionais de cada povo o que o verniz faz com a madeira.
É muito diferente uma madeira envernizada da mesma madeira não envernizada. É também muito diferente o verniz quando ainda está no balde para ser usado e depois de usado na madeira. Ninguém, conhecendo só a madeira ou conhecendo só o verniz, poderia imaginar que a madeira envernizada ficasse tão bonita e nem que o verniz ficasse tão bonito sobre a madeira.
Assim também se dá com a Religião Católica na alma de cada nação. O pau-brasil, por exemplo, só é inteiramente pau-brasil depois de bem envernizado. A madeira fica com todas as suas características e atinge toda a sua beleza depois de envernizada.
Deus criou a madeira para uso do homem e para que o homem fosse capaz de inventar vernizes e capaz de imaginar para a madeira uma forma de beleza que Deus queria. Desse modo é a Religião Católica com as várias nações. Para imaginar o ápice de cada uma delas, pensem nos grandes católicos que nela viveram. Porque aí é que o país aparece com toda a sua fisionomia.
Para falar de nosso País: um Brasil “envernizado” é um Brasil católico, um Brasil verdadeiramente brasileiro. A brasilidade é algo por onde todos se sentem unidos, se sentem filhos da mesma Pátria. O elemento fundamental da brasilidade se faz de uma prodigiosa capacidade de intercambiar, de permutar, de influenciar e de receber influência. Por exemplo a influência portuguesa. Nós olhamos para a Torre de Belém [foto acima] e encontramos ali nossas ressonâncias e consonâncias.
Essa intercambiabilidade ajudou o brasileiro a ser suave como uma gota de azeite. O bom brasileiro tem a índole mansa e cordial, mas se for brutalizado, enguiça tudo.
A colonização portuguesa foi penetrando aqui com o “imperialismo do azeite”. Foi penetrando como o azeite numa folha de papel. Deita a gota de azeite, ele não rasga a folha, não dilacera, mas vai se estendendo. Assim foi o colonialismo de Portugal. Creio que não há uma ex-colônia tão amiga da ex-metrópole como Portugal e Brasil.
É o dom dessa intercomunicação. É um modo especial de fazer as coisas, de ser, de arranjar. É um estilo brasileiro! O que mais dá felicidade a ele é procurar e encontrar afinidade. O bom brasileiro tem uma alma admirativa, por isso capaz de assimilar, porque de bom grado admira os outros. Olha para os outros sabendo reverenciar, prestar homenagem, admirar.
Quem admira, assimila e lucra. A alma do brasileiro é fundamentalmente admirativa. Esse gosto de ter afinidade na admiração, e de intercambiar, é o próprio bem-estar do brasileiro. É como ele se sente realizado.
Isso forma o que o ambiente nacional tem para construir, com nota brasileira, num território novo, um mundo novo feito de contribuições de toda espécie de passados, para um futuro de síntese. Aqui está o Brasil autêntico.