Honra, magnanimidade, grandeza, conceitos quase desaparecidos

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Plinio Maria Solimeo

“Palavra de honra”, “Isto é ponto de honra”, “Ele honrou a Pátria, seu colégio, seu time” são expressões, entre várias outras, que praticamente desapareceram da linguagem moderna. Isso porque o conceito de “honra” perdeu seu sentido original.

Ele existe hoje em alguns instrumentos de pesquisa como o Google, para o qual honra é “o princípio que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade; é a consideração devida a uma pessoa que se distingue por seus dotes intelectuais, artísticos, morais: ‘uma honra reservada apenas aos heróis’”.

Entretanto, mesmo nesses conceitos, a palavra honra já é muito pouco usada. Também o é nas acepções que lhe atribui o Dicionário Priberam: “1 – Sentimento do dever, da dignidade e da justiça; 2 – Conjunto de ações e qualidades que fazem com que alguém seja respeitado. Igual a Dignidade, Honradez, Probidade, Retidão; 3 – Distinção que resulta de ações ou qualidades que nobilitam. Oposto: Desonra”.

Ora, todo ser humano, por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, é por sua própria natureza e dignidade passível de reverência e de honra. De onde se falar de “dignidade humana”. Por isso, a maior excelência do homem é a virtude, por torná-lo mais semelhante a Deus. Em consequência, como ensina São Tomás de Aquino, as honras devem ser prestadas sobretudo aos virtuosos, razão pela qual honramos os santos.

Contudo, elas devem ser prestadas não só à virtude, mas a toda excelência. Por exemplo, aos que se notabilizam nas ciências, nas artes, ou mesmo nos esportes.

Por outro lado, o respeito e a obediência podem também ser prestados em um sentido inverso, isto é, de um superior para com um inferior. Assim, um mestre pode honrar seu discípulo que se destacou de alguma maneira dentre os outros.

Magnanimidade, grandeza

Comentando sobre a honra na Catholic Encyclopedia, o teólogo jesuíta Pe. Thomas Slater explica que embora devamos honrar aqueles que têm alguma superioridade em relação a nós, devemos em primeiro lugar honrar a Deus, nosso primeiro princípio e fim. Em decorrência desse amor, honramos também os anjos e os santos pelos dons e graças que Deus lhes concedeu. Do mesmo modo devemos honrar nossos pais, como diz o Decálogo, e nossos governantes espirituais e temporais, em razão da autoridade que exercem sobre nós. E assim sucessivamente, honramos os idosos e todos aqueles que de algum modo têm alguma superioridade sobre nós.

O ilustre teólogo apresenta então um raciocínio: sendo a honra não apenas um bem, mas o principal dos bens externos de que o homem pode desfrutar; e que, de acordo com a doutrina católica, todos são obrigados por justiça a dar honra a quem é devida, segue-se que não é moralmente errado alguém buscar a própria honra com a devida moderação e motivo adequado. Isso, de acordo com São Tomás e seguindo Aristóteles, faz o homem magnânimo: aquele que, sendo realmente digno de grandes coisas, está ciente disso.

Quadro de uma época em que o senso da honra se manifestava muito vivo em todos os ambientes

De modo que, quanto mais excelentes forem as qualidades de um homem, tanto maiores devem ser as honras a ele prestadas, por serem seus merecimentos mais elevados.

Daí poder-se-ia dizer que o magnânimo possui uma verdadeira grandeza, que é a coroa de todas as virtudes. Pois o critério da magnanimidade é a perfeição do conjunto de todas as virtudes individuais[i].

Pois a esse respeito já dizia o filósofo Platão: “Julgareis em vão dar grandeza à vossa alma se não a fazeis crescer em virtude”. O que ele, como pagão, dizia de uma virtude meramente natural, é tanto mais verdadeiro referindo-se à virtude sobrenatural.

Assim, “segundo Aristóteles, o homem magnânimo é justo e capaz de traçar metas mais elevadas que permitam aperfeiçoar-se como pessoa […] é aquele [que é] consciente do seu modo de ser e do seu valor pessoal, assim como tem sua autoestima elevada. […] O oposto de magnanimidade [magna anima, alma grande], ou seja, da grandeza de alma, é justamente a pequenez de espírito ou pusilanimidade [pusillus animus, almas pequenas]. […] O homem magnânimo é consciente dos seus atos e de sua honra, sem deixar que essa honra se torne fonte de soberba”[ii].

Por sua vez, o erudito Pe. Francisco Fernández Carvajal em um dos livros de sua série “Falar com Deus” (https://institutohesed.org.br/magnanimidade/), afirma:O magnânimo atreve-se ao que é grande porque sabe que o dom da graça eleva o homem a tarefas que estão acima da sua natureza (São Tomás, Suma Teológica2-2, q. 171, a. 2)e que as suas ações ganham então uma eficácia divina: esse homem apoia-se em Deus, que é poderoso para fazer nascer das pedras filhos de Abraão (cfr. Mt 3, 9; ); e é audaz nas suas iniciativas apostólicas, porque é consciente de que o Espírito Santo se serve da palavra do homem como instrumento, mas que é Ele quem aperfeiçoa a obra (cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 171, a. 2). Caminha e trabalha com a segurança de quem sabe que toda a eficácia procede de Deus, pois é Ele quem dá o crescimento ( cfr. 1 Cor 3, 7.)”[iii].

Por isso, “a principal virtude de uma pessoa magnânima reside em seu coração, sua força está em seu interior, não em elementos externos como a riqueza ou bens materiais. O magnânimo busca a autenticidade do ser e não a aparência”[iv].

Um exemplo inigualável de magnanimidade e grandeza de alma temos no Apóstolo São Paulo, que mostrava conhecer seus próprios méritos e dava graças a Deus por eles. Assim, em carta a Timóteo (2 Tim, 4, 7-8), prevendo seu próximo martírio, o Apóstolo dos Gentios afirma com todas as letras: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé. Já me está preparada a coroa da justiça que naquele dia [de meu martírio] me outorgará o Senhor, justo juiz, e não só a mim, porém a todos os que amam a sua vinda”.

[i]Cfr. The Catholic Encyclopedia, 1912, CD Room edition.
[ii]https://conceitos.com/magnanimidade/
[iii]https://institutohesed.org.br/magnanimidade/
[iv]In “conceitos.com”

Fonte: Agência Boa Imprensa; link para o site do artigo: Honra, magnanimidade, grandeza, conceitos quase desaparecidos – Agência Boa Imprensa – ABIM

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