Grande dia para todos católicos IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA

BULA INEFFABILIS DEUS (SS PIO IX)

Missão e privilégios de Maria nos
eternos desígnios de Deus

Deus inefável, cujas vias são a misericórdia e a verdade, cuja vontade é onipotente e cuja sabedoria poderosamente se estende de uma extremidade à outra (do mundo) e tudo governa com doçura (Sab 8, 1), havia previsto desde toda a eternidade a tristíssima ruína que do pecado de Adão derivaria para todo o gênero humano; e nos profundos segredos dum desígnio mantido oculto a todos os séculos, decretou cumprir a primitiva obra da sua bondade com um mistério ainda mais profundo, mediante a Encarnação do Verbo. A fim de que se não perdesse o homem que – contrariamente ao propósito da divina misericórdia – fora levado ao pecado pela astúcia e malícia do demônio, e fosse vantajosamente restaurada no segundo Adão a natureza humana, que iria sucumbir no primeiro.
E assim, desde o princípio e antes dos tempos, elegeu e predestinou, para o seu unigênito Filho, a Mãe da qual Ele, uma vez feito Homem, nasceria na feliz plenitude dos tempos; e tão grande foi o amor de predileção de que a envolveu, acima de todas as demais criaturas, que com a mais afetuosa benevolência nela pôs as suas maiores complacências.

E por isso, prodigiosamente a cumulou, para além da universalidade dos anjos e dos santos, com a abundância de todos os dons celestes, tomados do tesouro da sua divindade; para que assim, sempre absolutamente livre de qualquer mancha do pecado, toda bela e perfeita, viesse ela a possuir uma tal plenitude de inocência e de santidade, que maior se não pode conceber abaixo de Deus e cuja profundidade inteligência alguma, exceto Deus, pode alcançar compreender. E na verdade, era de absoluta conveniência que tão venerável Mãe resplandecesse sempre ornada dos fulgores da mais perfeita santidade; e, sendo inteiramente isenta até da própria mancha da culpa original, alcançasse o mais completo triunfo sobre a serpente antiga: aquela a quem Deus decidiu dar o seu Filho único – gerado do seu coração, igual a si mesmo e a quem ama como a si próprio – e dar-lho de tal modo, que Ele fosse por natureza o mesmo Filho comum e único de Deus Pai e da Virgem, aquela a quem o próprio Filho elegeu para a fazer substancialmente sua Mãe; aquela de quem o Espírito Santo quis e fez que fosse concebido e nascesse Aquele de quem Ele próprio procede.
A definição do dogma

( … ) Em conseqüência, depois de, na humildade e no jejum, ininterruptamente termos apresentado a Deus Pai, por meio de seu Filho, as Nossas orações privadas e as preces públicas da Igreja, a fim de que se dignasse dirigir e fortalecer a Nossa mente com a virtude do Espírito Santo; tendo implorado o auxílio de toda a Corte celeste e invocado com lágrimas o Espírito Paráclito; sob a inspiração do mesmo Espírito para glória da Trindade Santa e Indivisível, para honra e resplendor da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica e aumento da religião cristã, pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e pela Nossa – declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que defende ter sido a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, preservada imune de toda a mancha da culpa original, por singular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso, em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo Salvador do gênero humano, é revelada por Deus, e por isso deve ser acreditada firme e irrevogavelmente por todos os fiéis.
Por conseguinte, se alguém deliberadamentetiver a presunção – o que Deus não permita! – de acalentar no seu coração opiniões diversas daquilo que por Nós está definido, esses tais conheçam e saibam que por seu próprio juízo se condenam, sofrem naufrágio na fé, e se separam da unidade
da Igreja; e além disso, incorrem ipso facto nas penas estabelecidas pelo direito se, de viva voz ou
por escrito, ou de qualquer outro modo externo, ousarem manifestar o que pensam.
Sentimentos de esperança e exortação final Os Nossos lábios estão repletos de gozo e a Nossa língua inundada de exultação; e rendemos e sempre renderemos as mais humildes e mais vivas ações de graças a Cristo Jesus Nosso Senhor por, em sua singular benevolência, Nos ter concedido a Nós, apesar de a não merecermos, a graça de prestar e determinar esta honra e esta glória e louvor à sua Mãe Santíssima.
Alimentamos, porém, a firmíssima confiança de que a mesma Virgem Santíssima, toda bela e imaculada – que esmagou a envenenada cabeça da crudelíssima serpente; que trouxe a salvação ao mundo; que é glória dos Profetas e dos Apóstolos, honra dos Mártires, alegria e coroa de todos os Santos; que é refúgio seguríssimo e validíssima auxiliadora de todos os que se encontram em perigo; que é a poderosíssima Medianeira e Advogada de todo o mundo junto do seu unigénito Filho; que é fulgidíssima beleza e ornamento da Santa Igreja; que é firmíssimo reduto, que sempre destruiu todas as heresias, salvou das mais graves calamidades de todo o gênero os povos fiéis e as gentes, e Nos livrou a Nós próprios de tantos perigos que Nos ameaçavam – queira fazer, com a sua valiosíssima proteção, que a nossa Santa Mãe a Igreja Católica, uma vez removidas todas as dificuldades e desbaratados todos os erros, prospere e floresça cada dia mais intensamente entre todos os povos e em todos os lugares; e reine “dum litoral ao outro e do rio até aos confins da terra”; e goze de contínua paz, tranqüilidade e liberdade; que os réus obtenham o perdão; os doentes, a cura; os tímidos, a força; os aflitos, a consolação; os que estão em perigo, o auxílio; e os que estão no erro, eliminadas as trevas do espírito, regressem ao caminho da verdade e da justiça, e assim haja um só rebanho e um só pastor.
Ouçam estas Nossas palavras todos os Nossos caríssimos filhos da Igreja Católica; e sempre com mais ardente fervor de devoção, piedade e amor, continuem a venerar, invocar e suplicar a Santíssima Virgem Maria Mãe de Deus, concebida sem pecado original; e recorram, em todos os perigos, angústias, necessidades, incerteza e apreensões, com toda a confiança, a esta dulcíssima Mãe de misericórdia e de graça.

Pois nada temerão, nem desesperarão, se estiverem sob a sua conduta, proteção e defesa; pois o seu coração de Mãe vela pela salvação de todo o gênero humano. Constituída pelo Senhor como Rainha do céu e da terra, e elevada acima de todos os coros dos Anjos e de todas as ordens dos Santos, está à direita de seu Filho unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Quem suplica por todos os seus filhos com as suas poderosíssimas preces; e tudo o que ela procura encontra, e não pode ficar inatendida.

Finalmente, para que esta Nossa definição da Conceição Imaculada da Santíssima Virgem Maria possa ser levada ao conhecimento da Igreja universal, estabelecemos que esta Nossa Bula fique como perpétua memória do fato; e ordenamos que às suas transcrições ou cópias, mesmo impressas, subscritas pela mão de algum tabelião público e munidas do selo de pessoa constituída
em dignidade eclesiástica, se preste absolutamente a mesma fé que se prestaria à presente, se fosse exibida ou mostrada.

Ninguém, portanto, se permita infringir, atacar ou contradizer, esta Nossa declaração, proc1amação e definição. E se alguém tiver a ousadia de o fazer, saiba que incorre na indignação de Deus Todo-Poderoso e dos seus Apóstolos Pedro e Paulo.
Dado em Roma, junto de São Pedro, 8 de Dezembro do ano da Encarnação de Nosso Senhor de 1854, nono ano do Nosso pontificado.